sexta-feira, outubro 12, 2007

cidade alta


eu queria falar do que me roça à língua.
uma ilusão qualquer, meio circense,
e prenhe de improváveis óticas.
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como um passeio por tuas vielas,
cidade minha, hera sobre as telhas,
e algum lodo nos muros furtivos.
.
vais acordando sobre o rio torto.
naquelas águas mortas rumo ao mar.
e faz-te a corte o galo da igreja.
.
que almeja um dia ver-te em novo garbo,
com teus cabelos de vastos anéis,
bailando ao sol.

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Carlos Henrique Leiros
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[it was a coldbright day in april (rebecca kitchin)]

8 comentários:

Tinta Azul disse...

Muito bonito :)
Abraço

Anônimo disse...

Quem me dera essa paisagem feita de metáfora e metamosfose dentro de mim. Muito bom!

Osselin disse...

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.

A 'sp'rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha 's'prança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam - verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças -
Mortas, porque hão de morrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim -
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser - muro
Do meu deserto jardim.

Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

Pessoa

Saúdos.

livia soares disse...

Olá,CH.
Achei muito bonito este olhar sobre a cidade (a nossa), a que nos coube, para o bem e para o mal. E o Pessoa que me vem à mente, não sei por que, é aquele de "Mensagem", o verso terrível que diz: "...mas Deus não dá licença que partamos."; às vezes olho a nossa cidade e a vejo encalhada, emperrada num banco de areia. Mas vc extrai beleza até disso.
Um abraço.

devaneiosaovento disse...

Caro Ch,
interessante saber que se trata de um poema retratando sentimentos ligados a sua cidade, mas, convenhamos e sinceridade,qdo o li, não imaginei, imaginei algo além, quem sabe uma "cidade" interna, algo ligado a alma...não sei ao certo, mas como disse a amiga Lívia, vc consegue literalmente arrancar belezas nessa subjetividade e nesse enigmatismo todo, que já são marcas de suas poesias.
abraço grande.

Tania disse...

Olá Carlos,

Achei tão bonito que comece assim: "eu queria falar do que me roça à língua."

E então, da fala que roça a língua, são desenhadas essas paisagens que nos levam a um passeio sentimental.

Muito bonito!

Um abraço,

m disse...

andei lendo coisas que me dizem sobre o otimismo e o que ele traz, isso também não é novidade né? mas tudo bem se eu fazer ser uma verdade pra mim, agora? tentar não vai me doer, no mínimo: frustrar. fico feliz que para você algumas dessas palavras sejam sólidas.


eu, talvez, tenha desejos semelhantes aos teus. ás vezes extremeço por querer falar de ilusões quaisquer que me roçam a língua. mas a agilidade do meu arrepender se supera.

um beijo, figura!

Nena Dolores disse...

Ando muito desconfiada que o SENHOR fez campanha para que eu me mudasse. Isso não vele...haha
Engatinhando nesse mundinho, comecei hoje. Como diz a Mi "vejemos".

A propósito, sua camiseta é biiitaaa, aguarde que ela chega.

Beijo!