terça-feira, outubro 02, 2007

notívaga sombra


temo que anotes,
no suor velado do teu cálice,
que o contar dos dias me apavora.
.
e que eu deixo o rosto,
pender sobre o peito sem fôlego,
para que essas lágrimas não sejam de ninguém.
.
vou confundi-las com chuva,
e me ocultar nas sombras.
sobre meu corpo deitar-se-ão véus.
.
de modo a que não mais me reconheças,
no meio de tantos assobios,
de tantos trapos açoitados,
.
na longa noite que me envencilhou.

.
.
Carlos Henrique Leiros
.
.

[cherry garden 1 (vladimir clavijo telepnev)]

7 comentários:

devaneiosaovento disse...

Caro Carlos

Um poema digamos meio melancólico, falando em lágrimas, que se misturam às gotas de chuva(achei de uma sensibilidade rara) na vontade de nos esconder, por vezes, nas sombras que temos nas gavetas entranhadas da alma,de tudo e de todos. Como se por ora, a fragilidade (sim, essa humana, demasiadamente humana)não nos deixasse enfrentar o medo, quem sabe dos dias, e também das noites que são longas e escuras.
"lágrimas de ninguém..." lembrei-me como instintivamente nossas mazelas, ao sentí-las, pertencem somente a nós de certa forma, pois nunca o outro a sente como a sentimos.
Se servir de consolo, me senti assim por muitas e muitas vezes, mas no amanhecer, me adentrava "lá" e abria minha "gaveta", percebendo a vida e o cheiro de esperança que as manhãs carregam.
Abraços, sua amiga
Edna

Tania disse...

Sensível e tão bonito, ainda que triste... também me comove a fragilidade que habita o poema. E penso que há de existir coragem para ser frágil...

Um abraço, Carlos.

Tania

livia soares disse...

Olá, CH...
Estão dizendo por aí (vc sabe quem)que o Carlismo há de ser o reinado da melancolia. Se vc consegue transformar as tristezas em belezas, já é sinal de alguma saúde, né? Nos dias que correm, é quase um luxo. Mas essa é uma longa discussão.
Um abraço.

Maria disse...

Por aqui também se chove dos olhos, quantas vezes.....
... e um oceano a separar sentimentos idênticos...

Um abraço

Ana Ramiro disse...

o eu-lírico consegue se projetar perfeitamente nas imagens apresentadas. vejo a noite com seus trapos açoitados nas lágrimas do autor. E uma noite que envencilha é covardia...muito belo! ;-)
beijos, Ana
PS: recebeu o material?

Tinta Azul disse...

Se a noite envencilha...há-de vir a luz do dia, de um qualquer dia...para desenvencilhar.
Abraço

Ana Isabel disse...

Olá Carlos

os seus comentários nos meus blogs deixam-me um sorriso, nada melancólico, para o resto do meu dia (respondi já, no hálito, ao seu comentário)...vi agora outros, sempre muito delicadamente generosos.
gosto muito deste seu poema que aqui já li vezes sem conta. este início "temo que anotes,/no suor velado do teu cálice,/que o contar dos dias me apavora." ... é de uma entrega forte e despida.

Abraço
Ana Isabel