
imaginei poetas andando com árvores
que lhes cresceram por dentro
nos ramos se vêem engastados
as cicatrizes da agonia
e os gonzos
de onde pendem lágrimas feito pérolas
como se fossem de faiança antiga
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as árvores, algumas quase exaustas,
de sono ancestral
vão contando os sussurros dos seus donos
e talvez se interroguem
nas porfias de todas as raízes
sobre os comichões
que anunciam a palavra germinada
o porejar vindouro da idéia
quando os poetas adormecem
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e se eles sonham
entorpecidos por uma brisa
que de longe os precipita mar afora
dos seus ramos internos brotam flores
que pensamentos nutrem
acariciam e depois desfazem
como a areia soprada por siringes
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ficam-lhes as árvores
a paz de uma canção silenciada
a vida em nós, em lenho que range
e uma idéia que teima em não ser última.
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Carlos Henrique Leiros
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[trees (keith gerling)]