segunda-feira, agosto 20, 2007

poeta e plenitude


imaginei poetas andando com árvores
que lhes cresceram por dentro
nos ramos se vêem engastados
as cicatrizes da agonia
e os gonzos
de onde pendem lágrimas feito pérolas
como se fossem de faiança antiga
.
as árvores, algumas quase exaustas,
de sono ancestral
vão contando os sussurros dos seus donos
e talvez se interroguem
nas porfias de todas as raízes
sobre os comichões
que anunciam a palavra germinada
o porejar vindouro da idéia
quando os poetas adormecem
.
e se eles sonham
entorpecidos por uma brisa
que de longe os precipita mar afora
dos seus ramos internos brotam flores
que pensamentos nutrem
acariciam e depois desfazem
como a areia soprada por siringes
.
ficam-lhes as árvores
a paz de uma canção silenciada
a vida em nós, em lenho que range
e uma idéia que teima em não ser última.

.
.
Carlos Henrique Leiros
.
.

[trees (keith gerling)]

5 comentários:

livia soares disse...

Eita!
Hoje fui a primeira a comentar aqui. Lindo esse poema sobre os homens-árvores que se disfarçam de poetas (ao menos, assim me parece).Estou com saudades, apareça na minha sala!
Um abraço.

Maria disse...

Que linda esta imagem, poetas com árvores dentro...
... que brotam e florescem como palavras...

devaneiosaovento disse...

árvores que trazem consigo doces lembranças,mesmo com as cicatrizes da própria vida
chegam com as flores e seus aromas, em meio ao sono embalado por brisa,como sussuros, no adormecer
árvores poetas, com lembranças que nunca serão esquecidas,
os brotos teimam em renascer sempre
.
lembranças eternas, floridas,lindas,que inspira a árvore "poeta" a ficar na verdade viva.



Nossa,para mim um dos mais belos.
abraços

Mi disse...

Caro, Henrique Leiros (soou bonito, né?), se já aprovei? É lógico e há tempos. Cada vez melhor, igual vinho véio.

Obrigada pelas palavras engraçadas, pelos comentários tão acolhedores no blog e pela presenção constante [nem tao constante assim, porque ainda lhe falta algo e vc sabe: o famigerado! hihi]. *arroubos de sentimentalidades*

Beijo.

The-Insighters disse...

sabe,pode parecer clichê q eu vou dizer mas seu poema é de uma beleza que não tem tamanho,qria muito ter outras palavras pra dizer,só para n ser repetitiva,mas ele é o que é e não há palavras que se encaixem melhor que não seja: lindo,lindo,lindoo!!!
Bjos pra vc!